Norte de Celddulof

Uma área repleta de vilarejos élficos, inundados por casebres erguidos pelas madeiras avermelhadas providas das belas árvores Runir, e cortada pelo rio que dá nome a cidade. Essa área é rica em vegetações de cor avermelhada, assim como a sua iluminação cedidas pelas gigantescas árvores Runir; árvores de, em torno, cem metros de altura e trinta e cinco metros de diâmetro.

Cedrown F. Kirin
O Ilusionista Vermelho

O elfo estava sentado sobre um tronco de árvore de madeira avermelhada e a floresta ao seu redor estava em completo silêncio. Um silêncio único e poético. Uma criatura voava ao redor de Cedrown, criatura essa que se parecia muito com uma borboleta - ser vivo chamada inseto, vinda do planeta Terra -; era bela, do tamanho da mão do elfo e tinha uma coloração dourada. Ela emitia luz como tudo ao seu redor. O chão era repleto de folhas e galhos avermelhados das grandes árvores Runir que rodeavam a clareira que abrigava um encantador casebre as costas do elfo da floresta. Uma luz terna e suave vinha dos troncos enormes das árvores, iluminando o rosto de traços finos que fitava, distraído as copas das árvores. Sua capa negra arrastava ao chão e suas mãos delicadas estavam jogadas sobre os joelhos.

- Algo parece mudar... - Disse em um murmúrio mínimo, porém firme.

Oculta nos enormes arbustos da planta Laur, a elfa tentava se ocultar de seu tutor que, sabia ela, não demoraria a encontra-la. Lif é uma elfa da floresta de uma família conhecida por ter íntimo contato com todos os elementos, ela a primogênita da casa Antfir, não era capaz de dominar nenhum outro além da água. Cedrown era seu tutor desde que foi capaz de segurar um arco,  ensinava-lhe a arte da defesa, a meditação, a contemplação e a arte de se ocultar, o arco e flecha e o domínio dos elementos, embora seus esforços para ensinar esse último ainda não tinham surtido efeito. Do denso arbusto podia ver as costa do elfo que estava contemplando a natureza, sentado em um tronco de árvore Runir. Não demorou muito observando, precisava fechar os olhos brilhantes ou eles denunciariam sua posição, e assim o fez, colocando-se em estado de absoluto silêncio, silenciando até mesmo o som de sua respiração. Era boa nisso, poderia ficar horas ali em silêncio mas, o seu tutor era melhor ainda encontrando-a . Geralmente se escondia em lugares bem ocultos, dessa vez procurou usar o óbvio a seu favor, imaginando que o elfo nunca iria em seu encalço num lugar como aquele.

Mantinha-se concentrada, podia ouvir a natureza, a batida de seu coração sob a pele branca, conseguia sentir a força das águas do rio Celddulof, estava em harmonia com Lyn e isso lhe fez sorrir com a sensação de plenitude e paz que aquilo lhe dava. Estava ali já há alguns minutos quando teve uma sensação diferente, algo novo surgia, era só um pressentimento sabia que não deveria se preocupar.

Cedrown F. Kirin
O Ilusionista Vermelho

O ar era denso e abafado, Inepto. E os olhos do elfo ainda fitavam as copas das árvores, distantes, embora seus olhos as enxergassem com extrema nitidez. Seu respirar era inexistente. Não necessitava de ar, embora ele existisse ao seu redor como toda a graça da Deusa; tudo era Arwen. Tudo era paz e calmaria.

Ou era o que todo ser que rastejava em Celior pensava.

Seus lábios belos se mesclaram em um sorriso gentil e calmo enquanto sussurrava ao vento. Sua voz, literalmente, era levada pelo vento e penetrava com firmeza nas orelhas pontudas da elfa que se encontrava a metros de distância dele. Um vento calma, morno e gentil.

— Se achas que não te sinto, saiba que eu te encontrei há treze minutos atrás, pequena Lily.

E ele não estava sentado ao tronco da árvore Runir. Nunca estivera. Estava atrás da pequena elfa. Literalmente a cinco centímetros da pequena. E sua mão tocou de leve sua cintura.

Seus olhos mantinham-se fechados, mas sentia tudo ao seu redor, ao menos, era isso que pensava. O distante som das águas do rio invadia sua mente, a melodia das águas batendo nas rochas era poesia para Lif. Estava, tão intensamente, envolvida que se assombrou com as palavras de Cedrown, ainda mais quando sentiu o leve toque em sua cintura. Voltando-se para o elfo, que estava atrás de si, olhou para o tutor. Um rubor róseo invadia suas bochechas e a ponta de suas orelhas, e com sua voz doce e delicada perguntou-lhe:

-  Onde eu errei dessa vez, Cedrown? - Havia caído em uma ilusão do elfo.

- As águas e o som são tão belos.... - A Antfir era fascinada pelo rio, que tinha a mesma cor de seus olhos.

Levantou-se, limpou a cauda de seu vestido e afastou-se, caminhando em direção ao tronco de árvore onde vira a ilusão de seu tutor, sempre ficava envergonhada na presença de outro elfo mesmo tratando-se de um com quem convivia a tanto tempo. Era dedicada ao treinamento, mas não porque precisava defender-se, e, sim, porque amava fazê-lo. Esperava nunca ter de usar o que aprendia ali.

Ela viu a pequena criatura azulada pousar na mão de seu Mestre e, em seguida,  alçar voo novamente. Tudo em Celddulof era belo, pacífico e encantador. Permaneceu calada por alguns segundos, observando o voo da delicada criatura antes de responder o seu Mestre.

-  Tuas ilusões são muito para mim, Mestre. Até mesmo os sábios de nosso povo se confundem com a sua ilusão vermelha. - Tagarelava a elfa. - Não sei, acredito que é mais que só o fato de me banhar nas águas e delas beber,  sinto que há algo além disso. Mestre, por que estás mais pensativo que o normal?

A sensação de minutos atrás voltara, e mais uma vez, Lif decidiu ignorar. Estava mais interessada em melhorar as habilidades do que naquela sensação de novidade que não sentia já há um bom tempo. Fazia algumas semanas que a pequena saíra de casa e estava com o seu tutor, dedicando-se ao treinamento e auxiliando-o no cuidado da casa. Ela gostava disso também, sentia-se feliz em ajudar a quem tanto se esforçava para instrui-la.

Cedrown F. Kirin
O Ilusionista Vermelho

O elfo permaneceu distraído por longos segundos antes de voltar sua atenção a pequena elfa. Ele apenas fez um gesto lento com a cabeça, um gesto de modéstia, como resposta às palavras de sua pupila.

— Apenas estou... Reflexivo. — Ele a encarou com um olhar distante, mas sem deixar de ser, sutilmente, intimidador.  — Eu te encontrei com uma facilidade enorme hoje, pela vigésima vez, ou seja, estás distraída. A que devo a lástima dessa tua distração?

Apesar das palavras rígidas, tornou a sorrir de forma terna e intensa.